tag:blogger.com,1999:blog-48264966561196489872024-03-12T16:18:28.546-07:00O suave sorriso do demônioAutor: Parsifal PontesUnknownnoreply@blogger.comBlogger8125tag:blogger.com,1999:blog-4826496656119648987.post-55989717962564228582013-01-18T10:22:00.003-08:002013-01-18T11:26:02.095-08:00Prólogo<p><a href="http://lh5.ggpht.com/-BkCw9Xf1Hb4/UPmS8sup26I/AAAAAAAAfTg/FynvzVDoj8M/s1600-h/hat%25255B4%25255D.jpg"><img title="hat" style="border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; background-image: none; border-bottom-width: 0px; float: none; padding-top: 0px; padding-left: 0px; margin-left: auto; display: block; padding-right: 0px; border-top-width: 0px; margin-right: auto" border="0" alt="hat" src="http://lh6.ggpht.com/-b_z2RJC8r74/UPmS9d07ToI/AAAAAAAAfTo/qFhFquBNBMs/hat_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="279" height="312"></a> <p align="justify"><strong><font size="4">E</font></strong>ste conto foi escrito por mim em 2001, originalmente em inglês, para um concurso literário. <p align="justify">Em 2006 conclui a tradução. Desde então fico entre a vontade de publica-lo aqui ou trabalhar um livro a partir dele, tarefa que nunca tive tempo ou disposição para cometer: resolvi publica-lo online. <p align="center"><a href="http://suaveso.blogspot.com.br/2013/01/capitulo-i.html"><img title="proxima_thumb[1]" style="border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; background-image: none; border-bottom-width: 0px; padding-top: 0px; padding-left: 0px; display: inline; padding-right: 0px; border-top-width: 0px" border="0" alt="proxima_thumb[1]" src="http://lh3.ggpht.com/-SWW37YawNeY/UPmWlPbNWEI/AAAAAAAAfVI/HHbtIHSwd88/proxima_thumb1%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800" width="30" height="28"></a></p> Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4826496656119648987.post-27353325371015014002013-01-18T10:22:00.001-08:002019-01-17T18:18:04.735-08:00Capítulo I<div align="justify">
<b></b><a href="http://lh6.ggpht.com/-riOjEogpqiE/UPmSuMlAPZI/AAAAAAAAfSg/OkVihYCKeOM/s1600-h/Shot019%25255B4%25255D.jpg"><img alt="Shot019" border="0" src="http://lh6.ggpht.com/-HL4N2B5aDi8/UPmSvYrHJ1I/AAAAAAAAfSo/vG1jRcbqyYI/Shot019_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" height="388" style="background-image: none; border-bottom-width: 0px; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-top-width: 0px; display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" title="Shot019" width="400" /></a>"Todo homem tem três personalidades: a que exibe, a que possui e a que julga possuir." (<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Baptiste_Alphonse_Karr">Alphonse Karr</a>) </div>
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<a href="http://lh4.ggpht.com/-I5e0ADAC4ls/UPmSwPYik-I/AAAAAAAAfSw/qTOnc1UdZjs/s1600-h/divis3.jpg"><img alt="divis" border="0" src="http://lh4.ggpht.com/-4O26i-aLjJc/UPmSwx9z_hI/AAAAAAAAfS4/xDwBWr8b2Zo/divis_thumb1.jpg?imgmax=800" height="20" style="background-image: none; border-bottom-width: 0px; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-top-width: 0px; display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" title="divis" width="51" /></a></div>
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<b>W</b>illiam Delbury saiu do The Cat of the Red Painted Tail Pub, por volta das 23:00h. Cambaleava entre um e outro passo. </div>
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- Diabo! Exclamou ele, ao tropeçar na sarjeta, quando dobrou a esquina da Lancaster Road com a Melborne Street, onde dois quarteirões acima morava em um quarto e sala alugado. </div>
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Sempre recorria àquela expressão quando, sob os efeitos da cerveja do The Cat, dobrava aquela esquina, cujo desnível o fazia tropeçar. </div>
<div align="justify">
- Diabo! Era de novo William ao tentar acertar a fechadura do seu apartamento na Ambrose House. </div>
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- Diabo! William não conseguia acender a calefação para que pudesse dormir naquela noite fria de Londres. </div>
<div align="justify">
A palavra diabo se fazia presente em quase todas as frases de William. Tornara-se para ele uma interjeição em todas as ocasiões. </div>
<div align="justify">
Só mudavam os tons que as circunstâncias exigiam, mas fosse por alegria ou tristeza, pesar ou contentamento, indignação ou júbilo, lá estava a palavra a sair-lhe da boca. </div>
<div align="justify">
O dia seguinte amanheceu ansioso. A noite de Londres seria alegre: era a ante véspera do natal. </div>
<div align="justify">
William vestiu sua melhor roupa, colocou as polainas no sapato e rumou para a Hyde Central Road, onde morava a dona do seu coração: Gweneviere Stantson, uma bela jovem, cuja família houvera chegado, há dois anos, em Londres, vinda de Stratford-on-Avon. </div>
<div align="justify">
William conheceu a Senhorita Stantson através da tia da mesma, que era sua colega de trabalho na biblioteca da Scotish Public Secondary School. </div>
<div align="justify">
Naquela noite eles faziam dois anos de namoro. William pretendia pedi-la em casamento assim que conseguisse uma promoção, já garantida pelo conselho da escola. </div>
<div align="justify">
Após as compras, e de ter deixado a Senhorita Stantson em casa, William passou no The Cat. </div>
<div align="justify">
O mesmo caminho de volta, o mesmo tropeço na sarjeta da Lancaster com a Melborne, os mesmos diabos de sempre. </div>
<div align="justify">
- Diabo! William queimara os dedos ao tentar aumentar a calefação do quarto. </div>
<div align="justify">
Não conseguindo manejar o velho aquecedor, resolveu ir dormir na sala, onde o aparelho funcionava melhor. </div>
<div align="justify">
Parou assustado ao chegar na sala e deparar com um cavalheiro que estava sentado na poltrona que ficava ao lado da janela. </div>
<div align="justify">
O cavalheiro, quando o viu, levantou-se. William, ainda assustado, entre correr e avançar para o intruso, notou, pela penumbra da iluminação da rua, um cavalheiro bem apessoado, traços finos, trajando um terno bem talhado e que lhe caia perfeitamente em um corpo esbelto e retilíneo. </div>
<div align="justify">
Uma bengala de finíssimo cedro, cravejada com marfim e brilhantes, apoiava-se entre o chão do apartamento e a mão direita do estranho cavalheiro. </div>
<div align="justify">
Na outra mão, o cavalheiro segurava, elegantemente, a cartola, que tirou da cabeça ao levantar-se. </div>
<div align="justify">
- Quem é você? Como entrou aqui? </div>
<div align="justify">
- Você me chamou, William. Respondeu o cavalheiro com uma voz serena, mas impávida. </div>
<div align="justify">
- Eu não chamei ninguém! O que deseja? </div>
<div align="justify">
- Sim, William, você me chamou. Você sempre me chama. Você me tem chamado por toda a sua vida, todos os dias. Resolvi, hoje, atender o seu chamado. Estou a sua disposição. O que deseja? </div>
<div align="justify">
Um frio passou na espinha de William. Poderia ser o que ele estava pensando, ou aquilo não passava de uma brincadeira dos amigos do The Cat? </div>
<div align="justify">
- Não me diga que quer dizer que é o Diabo? Retrucou William, mais para ele mesmo que para o seu visitante, com um sorriso incrédulo e ao mesmo tempo nervoso. </div>
<div align="justify">
- Sim, William, não sou uma brincadeira dos seus amigos do The Cat. Sou o diabo, a quem você sempre chama. </div>
<div align="justify">
- Mas o diabo não deveria ter um enorme rabo, chifres, patas de bode e a minha sala não deveria estar impregnada do seu terrível cheiro de enxofre? (William ainda preferia acreditar que tudo não passava de uma brincadeira) </div>
<div align="justify">
- Meu caro William Delbury, o diabo se pode apresentar de diversas formas, e estar nos mais insuspeitos lugares. Você pode encontrá-lo no The Cat, em uma esquina escura, nos púlpitos até... </div>
<div align="justify">
- Como poderia me provar que é o que diz? </div>
<div align="justify">
- Custa caro me colocar à prova, Senhor Delbury... </div>
<div align="justify">
- Pois eu quero pagar o preço! Vamos prove! </div>
<div align="justify">
- Insisto que não me deveria por à prova, Senhor Delbury... </div>
<div align="justify">
- Você é uma farsa! Vamos, prove! </div>
<div align="justify">
- Está bem. Depois de amanhã, na noite de natal, você terá uma surpresa, William. Verá que eu sou quem digo ser, e pagará o preço que se propõe, por duvidar. </div>
<div align="justify">
O cavalheiro vestiu a cartola, agasalhou a bengala embaixo do braço e estendeu a mão em despedida. </div>
<div align="justify">
William sentiu uma mão fina e macia, mas firme, apertar as suas. </div>
<div align="justify">
- Estamos acordados então? </div>
<div align="justify">
- Sim, claro. Depois de amanhã. Respondeu William. </div>
<div align="justify">
- Depois de amanhã, Senhor Delbury. </div>
<div align="justify">
William acompanhou, por detrás da cortina da janela, o cavalheiro se afastando em direção à Lancaster Road. De repente, pareceu-lhe que o cavalheiro se envolveu com a bruma densa da noite londrina e desapareceu. </div>
<div align="center">
<a href="http://suaveso.blogspot.com.br/2013/01/prologo.html"><img alt="anterior_thumb[1]" border="0" src="http://lh4.ggpht.com/-Vw1tETooIn0/UPmSyXchlRI/AAAAAAAAfVQ/Puek-D94zrs/anterior_thumb1%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800" height="28" style="background-image: none; border-bottom-width: 0px; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-top-width: 0px; display: inline; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" title="anterior_thumb[1]" width="30" /></a> <a href="http://suaveso.blogspot.com.br/2013/01/capitulo-ii.html"><img alt="proxima_thumb[1]" border="0" src="http://lh3.ggpht.com/-V9gLzzKI8_w/UPmSz4OWc8I/AAAAAAAAfVU/CLWpWPuuprs/proxima_thumb1%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800" height="28" style="background-image: none; border-bottom-width: 0px; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-top-width: 0px; display: inline; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;" title="proxima_thumb[1]" width="30" /></a></div>
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Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4826496656119648987.post-28155628208828860092013-01-18T10:20:00.001-08:002013-01-18T10:39:31.871-08:00Capítulo II<p align="justify"><b></b><a href="http://lh6.ggpht.com/-99ta0T3r24I/UPmSQ67ZjiI/AAAAAAAAfRg/K6oGt73xKOI/s1600-h/Shot018%25255B4%25255D.jpg"><img title="Shot018" style="border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; background-image: none; border-bottom-width: 0px; float: none; padding-top: 0px; padding-left: 0px; margin-left: auto; display: block; padding-right: 0px; border-top-width: 0px; margin-right: auto" border="0" alt="Shot018" src="http://lh3.ggpht.com/-MBZGQyKUKpg/UPmSR7IWqnI/AAAAAAAAfRo/50XbZovvFsE/Shot018_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="420" height="480"></a>"Posso acreditar em tudo, desde que seja incrível." (<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Oscar_Wilde">Oscar Wilde</a>) <p align="center"><a href="http://lh5.ggpht.com/-Tqy2-kxdc4I/UPmSSp-p-BI/AAAAAAAAfRw/Epa87NuMh2Q/s1600-h/divis3.jpg"><img title="divis" style="border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; background-image: none; border-bottom-width: 0px; padding-top: 0px; padding-left: 0px; display: inline; padding-right: 0px; border-top-width: 0px" border="0" alt="divis" src="http://lh5.ggpht.com/-8lffXavuhFE/UPmSTQT2SbI/AAAAAAAAfR4/dWuDZG6aklU/divis_thumb1.jpg?imgmax=800" width="51" height="20"></a></p> <p align="justify"><b>W</b>illiam estava atrasado para a ceia que teria na casa dos Stantson: os carros sempre passavam lotados. <p align="justify">Ele houvera marcado pegar a Senhorita Stantson na casa da tia, onde esta passara o dia, para irem todos juntos. <p align="justify">A Sandbury Street, no centro de Londres, era uma rua larga e de muito movimento. Os tílbures passavam frenéticos, de um lado para outro. <p align="justify">Do outro lado da rua, William avistou a Senhorita Stantson e a sua tia a acenar-lhe que esperasse que elas atravessassem para onde ele estava, onde seria mais fácil pegar um tílburi para a Hyde Central Road. <p align="justify">William esperou. As duas avançaram. William olhou e gritou para que parassem: um enorme ônibus público, puxado por seis cavalos, cortava dois tílburis e teve que sair da direção em que ia, devido a um outro tílburi que vinha em sentido contrário, e não percebeu a manobra. <p align="justify">Gritos foram ouvidos. O ônibus parou mais à frente e todos desceram alarmados. William correu, trêmulo, e foi afastando a multidão que se empurrava. <p align="justify">Ao chegar ao centro, um corpo ensangüentado jazia no chão frio da Sandbury Street. Ao lado do corpo uma mulher gritava desesperada: era a tia da Senhorita Stantson, que alucinava com o atropelamento da jovem sobrinha. <p align="justify">William sentiu o mundo faltar-lhe aos pés. Os gritos lancinantes que soltava partiam o coração de quem se detinha para ver a tragédia: as patas dos cavalos e as rodas do ônibus haviam dilacerado o delicado e jovem corpo da Senhorita Stantson. <p align="justify">William a tomou nos braços. Pranteava ao mundo a perda da sua amada, quando, de repente, ao procurar na multidão arrego para a sua dor, seu coração foi esmagado por garras afiadas, em um sentimento que era maior que a dor que sentia: grave e impávido, com a mesma serenidade que se apresentara naquela noite, aquele estranho e elegante cavalheiro o fitava com um olhar penetrante, em um rosto desprovido de expressão, como se fora esculpido em pedra. <p align="justify">Após o funeral, William passou dois dias sem sair do apartamento. Não conseguia esquecer aquele cavalheiro e passou a acreditar que aquilo não passara de uma coincidência. <p align="justify">Evitou falar do caso com seus amigos. No quinto dia voltou ao trabalho. Era um homem triste e acabrunhado. <p align="justify">Na volta não passou no The Cat. Foi direto para casa. Ao entrar na sala, no chapeleiro em frente à porta, estava uma cartola. Logo abaixo, encostada ao batente do chapeleiro, uma bengala de fino cedro, cravejada com brilhantes. <p align="justify">William, quase mecanicamente, deu dois passos à frente e virou-se para a poltrona da janela. Lá estava o cavalheiro sentado, que se levantou, educadamente, ao avistá-lo. <p align="justify">- Maldito! Você a matou! <p align="justify">- Eu o avisei, William, que o preço seria alto e você se propôs a pagá-lo. <p align="justify">- Eu achei que era uma brincadeira, desgraçado! <p align="justify">- Jamais brinco, Senhor Delbury. Tenho muito trabalho a fazer, sou muito solicitado, muitas pessoas chamam por mim. Você teve a felicidade de ser atendido. Mas, William, há sempre uma compensação para tudo na vida. <p align="justify">- Nada no mundo poderá compensar o que perdi. <p align="justify">- Sr. Delbury, ao tempo nada resiste. A dor que agora você sente não passará de lembranças, primeiro angustiantes, depois ternas. Não mais que de repente, se pegará sorrindo, com saudades, mas sem dor. Posso providenciar para que haja alguma ajuda ao tempo, William. <p align="justify">- O que poderia fazer para me livrar desta dor? <p align="justify">- As coisas podem começar a dar certo para você. Sempre que me chamava, era porque as coisas davam erradas. <p align="justify">- E qual o preço disto, desta vez? Você sempre fala em preços. <p align="justify">- Tudo deve ter um preço, William. Nada é gratuito. As coisas sempre têm causa, efeitos e conseqüências. Posso lhe fazer um homem muito rico e respeitado em todo o Império Britânico, cobrar-lhe-ei isto depois, quando eu achar que devo. Uma vez que eu cobre, você terá que pagar imediatamente, e não se preocupe, terá meios para isto, pois você será rico e poderoso. Em se recusando a pagar, eu mesmo irei lhe subtrair o valor correspondente da fortuna que terá acumulado. <p align="justify">- Posso fazer o que eu quiser com o dinheiro e o poder? Caridades, por exemplo? <p align="justify">- O dinheiro e o poder serão seus, William, poderá usá-los como quiser, e o preço que eu lhe cobrar não custará nada a sua fortuna ou ao seu poder. A não ser, é claro, que se recuse a pagar o dote que ora assina. <p align="justify">- Então eu aceito. Usarei tudo para o bem. Você ira se arrepender de me ter transformado em um instrumento do bem, através do seu mal. <p align="justify">- Eu nunca me arrependi dos meus atos, Senhor Delbury. <p align="justify">O cavalheiro estendeu a mão direita para William, que correspondeu com um aperto tímido. <p align="justify">O cavalheiro vigorou o aperto: causou espécie à William, de como uma pessoa de traços tão finos e mãos tão delicadas pudesse ter um aperto tão forte, quase dolorido, como se quisesse apertar a mão da sua própria alma. <p align="center"><a href="http://suaveso.blogspot.com.br/2013/01/capitulo-i.html"><img title="anterior_thumb[1]" style="border-top: 0px; border-right: 0px; background-image: none; border-bottom: 0px; padding-top: 0px; padding-left: 0px; border-left: 0px; display: inline; padding-right: 0px" border="0" alt="anterior_thumb[1]" src="http://lh4.ggpht.com/-cZhN7Gfr9RE/UPmSUw7H29I/AAAAAAAAfVY/JIBe3HBiV1o/anterior_thumb1%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800" width="30" height="28"></a> <a href="http://suaveso.blogspot.com.br/2013/01/capitulo-iii.html"><img title="proxima_thumb[1]" style="border-top: 0px; border-right: 0px; background-image: none; border-bottom: 0px; padding-top: 0px; padding-left: 0px; border-left: 0px; display: inline; padding-right: 0px" border="0" alt="proxima_thumb[1]" src="http://lh5.ggpht.com/-bS1vjjEg5as/UPmSV0h4WaI/AAAAAAAAfVc/YrhyIUprlyQ/proxima_thumb1%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800" width="30" height="28"></a></p> Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4826496656119648987.post-56773256096523606612013-01-18T10:14:00.001-08:002013-01-18T10:40:14.649-08:00Capítulo III<p align="justify"><b></b><a href="http://lh5.ggpht.com/-3uT-SJz9ZgE/UPmQ7hU98EI/AAAAAAAAfPk/KyUHStrNYGQ/s1600-h/Shot017%25255B4%25255D.jpg"><img title="Shot017" style="border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; background-image: none; border-bottom-width: 0px; float: none; padding-top: 0px; padding-left: 0px; margin-left: auto; display: block; padding-right: 0px; border-top-width: 0px; margin-right: auto" border="0" alt="Shot017" src="http://lh4.ggpht.com/-GmqturGjHgY/UPmQ845jHtI/AAAAAAAAfPs/67wZLuDa2F8/Shot017_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="400" height="384"></a>"Não espere pelo Juízo Final: ele ocorre diariamente." (<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Oscar_Wilde">Albert Camus</a>) <p align="justify"><a href="http://lh6.ggpht.com/-8-acKJuSOgk/UPmQ-H5E6vI/AAAAAAAAfP0/46OhYq7XrHs/s1600-h/divis3.jpg"><img title="divis" style="border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; background-image: none; border-bottom-width: 0px; float: none; padding-top: 0px; padding-left: 0px; margin-left: auto; display: block; padding-right: 0px; border-top-width: 0px; margin-right: auto" border="0" alt="divis" src="http://lh6.ggpht.com/-Y8sPjy4Hzww/UPmQ-2xFyUI/AAAAAAAAfP8/aClW6BaavXk/divis_thumb1.jpg?imgmax=800" width="51" height="20"></a></p> <p align="justify"><b>T</b>rinta anos se passaram desde aquela derradeira conversa. <p align="justify">Sir William Delbury era um dos homens mais ricos e respeitados do Império Britânico: possuía indústrias e era acionista de uma das maiores casas bancárias do Reino Unido. <p align="justify">Havido como um homem recatado e caridoso, era conselheiro de várias casas de saúde de Londres. Presidia o conselho do maior hospital público da Inglaterra, o Saint Paul Public Hospital, cuja ala infantil, as suas expensas, mandara construir e mantinha. <p align="justify">Doava, mensalmente, consideráveis quantias para obras de caridade. <p align="justify">Privava da amizade e da intimidade de outro respeitável cavalheiro do Reino, Lord Robertson Mulney, médico que, aos 45 anos, dedicara-se integralmente, com sua esposa, à caridade. <p align="justify">Lord Mulney era responsável pela ala infantil do Saint Paul, médico e conselheiro particular de Sir William. <p align="justify">O pacto que fizera William, na juventude, era um segredo só seu. Jamais o repartiu com alguém. <p align="justify">Era um homem solitário. Jamais se casou. Achava que se amasse alguém de novo, correria o risco de ter que entregá-la ao diabo, como preço. <p align="justify">Que maior preço poderia haver que ser o próprio algoz do ser amado? Ele já havia experimentado e sabia que nada poderia ser mais cruel. <p align="justify">Lord Mulney e sua esposa não haviam gerado filhos. De tudo faziam, desde o casamento, há 20 anos, para ter um herdeiro. Todos os recursos que a medicina possibilitava foram usados em vão. <p align="justify">Em uma tarde cinzenta na City. Sir William nunca vira Lord Mulney entrar-lhe na sala tão eufórico. <p align="justify">- Meu grande amigo! Você é o primeiro a saber: a Senhora Mulney está esperando um bebê! <p align="justify">- Lord Mulney! Deus os abençoe! Vossas preces foram ouvidas! <p align="justify">Sir William sentiu uma enorme felicidade pelo amigo e esposa. O desejo ardente dos dois se houvera realizado. <p align="justify">Voltou para casa, uma enorme mansão de 40 quartos na Dolcester Road, pensando que se a sua Gweneviere estivesse viva, já poderiam ter até netos. Mas o filho dos Mulney seria como um neto seu. Já se imaginava brincando com o bebê Mulney nos enormes jardins do seu castelo. <p align="justify">John Pincherbill, o fiel mordomo do Castelo Delbury, avisou Sir William que o jantar estava posto. <p align="justify">William sempre sentava à mesa sozinho, exceto quando Lord Mulney e esposa o acompanhavam na ceia. <p align="justify">A enorme mesa pareceu mais aconchegante aquela noite. Sir William imaginou o pequeno Mulney à cadeira ao lado da sua. <p align="justify">- Com sua licença, Sir. <p align="justify">- Pois não John? <p align="justify">- Um cavalheiro à porta diz que lhe precisa falar e pede a gentileza de o senhor lhe permitir acompanhar-lhe no jantar. <p align="justify">- Não espero ninguém John. De quem se trata? Que nome lhe declinou para anunciar? <p align="justify">- Não me declinou o nome, Sir. Eu o avisei que o senhor não aguardava ninguém e estava à mesa, mas o cavalheiro insistiu e disse que o senhor o conhece. <p align="justify">Sir William procurou na mente quem poderia ser, e não encontrou, de pronto, alguém que lhe poderia visitar, sem avisar, àquela hora. <p align="justify">- Faça-o entrar e o acomode na biblioteca. Estarei lá em 20 minutos. <p align="justify">Ao sorver o vinho, não mais que de repente, como um raio, um pensamento partiu-lhe a mente: William tentou recordar as feições daquele cavalheiro que vira somente três vezes, a última vez há 40 anos e, desde então, jamais lhe pronunciara novamente o nome. <p align="justify">Não mais conseguiu cear. Levantou-se. Foi até o lavabo. Olhou-se no espelho, tentado enxergar o jovem Delbury de 40 anos atrás, no frescor dos seus 25 anos. Mudara muito desde então: as rugas marcavam-lhe a suave sisudez do porte. <p align="justify">Deixou o lavabo, rumo à biblioteca. Ao passar pelo átrio do palácio, instintivamente, olhou a chapeleira: uma bengala de fino cedro, cravejada de brilhantes, e uma cartola, descansavam solenes, a compor a estética fria do salão. <p align="justify">Sir William respirou resignado e entrou na biblioteca: ao fundo com um livro na mão, o cavalheiro, que em nada houvera mudado desde o último encontro, rumou para cumprimentá-lo. <p align="justify">- Como você está, William? Deixe-me observar que você tem uma bela biblioteca. Já o leu? (estendendo com a mão esquerda, o livro que folheava). <p align="justify">- Estou bem. A Divina Comédia... Deve-lhe parecer familiar, não? A propósito, nunca me disse o seu nome. <p align="justify">- Tenho vários nomes e faces, William. Nomes, todavia, não são importantes e sim as atitudes e os desejos daqueles que me procuram. Você sempre costumava me chamar por um. Pode continuar a usá-lo. <p align="justify">- O que deseja agora? Custou a vir. Achei que me tinha esquecido. <p align="justify">- Jamais esqueço algo. É que o tempo para mim tem uma grandeza diferente que o mesmo tempo para você. O que é um segundo para uns, pode ser a eternidade para outros. <p align="justify">- Vejo que manteve a sua juventude. <p align="justify">- A minha juventude é o preço que sempre cobro. Para que eu me mantenha sempre jovem, é necessária certa compensação. Como eu lhe disse, para tudo há uma forma de compensação. Eu estou incluído neste tudo. <p align="justify">- O que deseja? O que lhe devo dar? <p align="justify">- Os Mulney esperam um filho, não é William? <p align="justify">Sir William Delbury sentiu o mundo faltar-lhe aos pés. Só houvera sentido algo igual, quando viu, há 40 anos, sua amada sem vida. <p align="justify">Caiu na cadeira, esmorecido. Fitou o cavalheiro, que, impávido e sereno, fitava-lhe. Lembrou o olhar que vira quando estava com a sua amada morta nos braços. <p align="justify">- Por favor, qualquer outra coisa. Não pode fazer nada com os Mulney. Eles sempre foram o exemplo da fé divina. Sempre se portaram como fiéis servos de Deus. Deus os recompensou com um filho ardentemente desejado. <p align="justify">- Por que só a Deus se brinda o que ardentemente se deseja? Não lhe passa na mente que tudo aquilo que é ardentemente desejado, pode ser, também, brindado a mim? <p align="justify">- Você jamais poderia entrar no coração dos Mulney. <p align="justify">- Olhe para você. Alguém poderia afirmar que eu estou em seu coração? Que as suas mãos que distribuem caridade ao mundo, apertaram as minhas e selaram comigo um acordo para que tudo o que você tem fosse providenciado? Olhe para mim. Alguém poderia afirmar que eu arrebatei a alma da sua amada de um modo tão cruel? Insisto: quem poderia acreditar que eu, através de você, tenho feito 40 anos de caridade, salvado vidas, matado fome e sede e semeado felicidade? Não é a minha missão plantar miséria, fome e desgraça? Não deveria o papel que eu lhe proporcionei fazer, ter sido proporcionado por Deus? Não cobra, Ele também, um preço por tudo que entrega? <p align="justify">- Onde queres chegar, Satanás? (Sir William titubeara um pouco ao pronunciar aquele nome. Era a primeira vez que admitia, através de um nome, que conversava com o demônio). <p align="justify">- Quero dizer que podemos, eu e Ele, sermos faces opostas de um mesmo ego. Não semeou Ele desgraça no mundo? Não transformou a mulher de Ló em sal? Não destruiu cidades, não afogou gerações? Eu não te dei fortuna? Não tenho dado fortunas aos outros? E não te dei o livre arbítrio de dispor disto como te aprouvesse? Meu caro William, assim como pagarias à Ele, deves pagar a mim. Fizeste um trato. Deves cumpri-lo. <p align="justify">- E se eu não pagar o preço que me cobras? Ele é muito alto para mim. <p align="justify">- Não ouse quebrar um pacto feito comigo. Pague o preço ou a conta ficará mais cara ainda. <p align="justify">- O que poderia ser mais caro para mim que aquilo que tu já levaste e agora quer levar? <p align="justify">- Há sofrimentos que o homem não imagina que possam existir. Só o tempo poderá despertar a realidade daquilo que o sofrimento pode ser. O mesmo tempo que faz esquecer, pode se tornar uma eterna tortura de lembrar. <p align="justify">- O que quer, afinal, que eu faça? <p align="justify">- Quero o bebê Mulney, no dia em que ele nascer. Mate-o neste dia. Decepe-lhe a cabeça do corpo. Traga-a para cá e me entregue. Estarei esperando. Lembre-se, William: no mesmo dia em que nascer. <p align="justify">- Jamais farei isto. Já que és tão poderoso, por que não fazes estas coisas você mesmo? Por que precisas ficar fazendo pactos com os homens? <p align="justify">- Por que Ele, que dizem ser mais poderoso que eu, precisa de instrumentos para realizar seus desígnios? Por que Ele precisa ter servos que Lhe sirvam e eu não? A verdade é que eu e Ele não sabemos muito lidar com as coisas terrenas. Se eu tiver que fazer o que lhe peço, mais cabeças poderão ser decepadas, além da do bebê Mulney. Por isto preciso de você para fazer o serviço. Preciso ir, William. No dia em que nascer. Nem um dia depois. <p align="justify">William apertou os olhos com as mãos, para tentar encontrar na escuridão que se fazia em sua mente, uma luz que o guiasse a uma saída. <p align="justify">Ao abaixar os braços o cavalheiro havia desaparecido. A voz, todavia, ainda lhe ecoava ao juízo: “nem um dia depois”. <p align="center"><a href="http://suaveso.blogspot.com.br/2013/01/capitulo-ii.html"><img title="anterior_thumb[1]" style="border-top: 0px; border-right: 0px; background-image: none; border-bottom: 0px; padding-top: 0px; padding-left: 0px; border-left: 0px; display: inline; padding-right: 0px" border="0" alt="anterior_thumb[1]" src="http://lh4.ggpht.com/-R6Uk4YXei0w/UPmRAer9Q2I/AAAAAAAAfVg/70LfLw3FcwQ/anterior_thumb1%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800" width="30" height="28"></a> <a href="http://suaveso.blogspot.com.br/2013/01/capitulo-iv.html"><img title="proxima_thumb[1]" style="border-top: 0px; border-right: 0px; background-image: none; border-bottom: 0px; padding-top: 0px; padding-left: 0px; border-left: 0px; display: inline; padding-right: 0px" border="0" alt="proxima_thumb[1]" src="http://lh3.ggpht.com/-N5dqj0tEVxo/UPmRBqvH9hI/AAAAAAAAfVk/XT-0qCfzw58/proxima_thumb1%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800" width="30" height="28"></a></p> Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4826496656119648987.post-62867952621842836332013-01-18T10:12:00.001-08:002013-01-18T10:40:59.285-08:00Capítulo IV<p align="justify"><b></b><a href="http://lh6.ggpht.com/-dDCzGqh4IUY/UPmQildqUhI/AAAAAAAAfOk/C-hMzNp6W-4/s1600-h/Shot016%25255B4%25255D.jpg"><img title="Shot016" style="border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; background-image: none; border-bottom-width: 0px; float: none; padding-top: 0px; padding-left: 0px; margin-left: auto; display: block; padding-right: 0px; border-top-width: 0px; margin-right: auto" border="0" alt="Shot016" src="http://lh6.ggpht.com/-k--7z1BiBxs/UPmQjZKPPiI/AAAAAAAAfOs/5wOyfUQjosM/Shot016_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="420" height="290"></a>"O caminho do inferno é pavimentado de boas intenções." (<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx">Karl Marx</a>) <p align="justify"><a href="http://lh6.ggpht.com/-w1m-_sf4NWQ/UPmQkGQ0-YI/AAAAAAAAfO0/HsYyN5E8aNo/s1600-h/divis3.jpg"><img title="divis" style="border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; background-image: none; border-bottom-width: 0px; float: none; padding-top: 0px; padding-left: 0px; margin-left: auto; display: block; padding-right: 0px; border-top-width: 0px; margin-right: auto" border="0" alt="divis" src="http://lh3.ggpht.com/-MJOIcfscF_I/UPmQkwCGEwI/AAAAAAAAfO8/O35_WTd_VaY/divis_thumb1.jpg?imgmax=800" width="51" height="20"></a></p> <p align="justify"><b>D</b>esde aquele dia, Sir William passava quase o dia todo recolhido à capela do Castelo Delbury, orando. <p align="justify">Achava que se clamara tanto pelo diabo e este aparecera, clamaria mil vezes mais por Deus e este apareceria para salvar-lhe daquela tragédia. <p align="justify">Pensou em contar tudo ao seu fiel amigo, Lord Mulney, mas desistiu, pois a história iria parecer inverossímil. <p align="justify">Dobrou as doações que fazia, na esperança de que um milagre ocorresse. <p align="justify">Lord Mulney decidiu que seu filho nasceria na ala infantil do Saint Paul. Além de ele ser o diretor da ala, aquele era o melhor hospital infantil da Inglaterra. <p align="justify">Havia mais de cem crianças nas enfermarias daquela ala. Ricas e pobres, todas ali recebiam os melhores cuidados. <p align="justify">Assim que Sir William foi avisado de que a Senhora Mulney tinha dado entrada no Saint Paul, com as dores do parto, recolheu-se à capela do Castelo Delbury e orava ardentemente. <p align="justify">Por volta das 02h00m de uma madrugada tépida do verão londrino, Sir William foi despertado da concentração em que se encontrava, na oração, pelos gritos de Lord Mulney, avisando do nascimento de Robertson Mulney II. <p align="justify">A notícia o fez cair em prantos, abraçado ao amigo, que o puxava pelo braço para ir ao Saint Paul ver o seu afilhado: ele seria o padrinho do recém nascido. <p align="justify">Desculpou-se. Estava por demais cansado. Orara a noite toda para tudo correr bem e iria ver seu afilhado pela manhã. <p align="justify">Ao se recolher, Sir William não deixava de ouvir a voz seca e serena: no dia em que nascer. Nem um dia depois. <p align="justify">O nascimento se dera por volta dos 00h30min daquele dia, segundo lhe dissera Lord Mulney, ao chegar, por volta das 02h00m, no Castelo Delbury. Sir William teria, então, quase 22 horas para pensar no que poderia fazer. <p align="justify">A Abadia de Westminster nunca parecera tão grave aos olhos de Sir William. Gostava de observar a Capela Central e houvera, inclusive, doado enormes lâminas de vidro, para aplicar sobre as pinturas, impedindo assim a ação direta da poeira sobre os afrescos. <p align="justify">Naquele momento, homens suspendiam, através de cordas, a lâmina de vidro que protegeria a pintura maior da lateral esquerda da capela. <p align="justify">Sir William observava o trabalho, enquanto esperava o Abade, que apressou-se em levantar de sua sesta, quando lhe foi anunciada a chegada do amigo. <p align="justify">Sir William estava decidido a contar tudo ao Abade, dividiria com ele a sua tragédia, talvez ele pudesse lhe ajudar em um momento tão dramático. <p align="justify">O Abade desceu as escadas e abraçou efusivamente Sir William. <p align="justify">- Soube que Lord Mulney é pai e você será o padrinho do pequeno Mulney! <p align="justify">- É sobre isto que venho lhe falar. <p align="justify">- Quer fazer o batismo aqui? <p align="justify">- Não se trata disto. É sobre algo terrível que lhe preciso falar. <p align="justify">Um estalo seco se ouviu do alto. Sir William levantou a vista e pode notar a enorme lâmina de vidro caindo como uma lança, a cerca de 4 metros à direita de onde estava, na nave esquerda da Capela. <p align="justify">Pela trajetória da queda, a lâmina se espatifaria no corrimão da escada de acesso ao púlpito, a cerca de 1 metro do chão. Os dois correram em sentido oposto ao da provável queda da lâmina, para que não fossem atingidos pelos estilhaços. <p align="justify">Ao correr, Sir William viu que o Abade houvera parado e fitava, estatelado, um enorme estilhaço que voava em sua direção. <p align="justify">Sir William gritou e o puxou ao chão. Ao cair no chão, juntamente com o Abade, não notou que só levara ao chão já o corpo do Abade, separado da cabeça: o estilhaço afiado, que houvera estourado ao se partir o vidro com o mármore do corrimão da escada, houvera degolado o Abade. <p align="justify">A tragédia entristeceu Londres. Sir William chegou à beira da loucura. Culpou-se pela morte do Abade. Tinha absoluta certeza de que não fora o acaso: o Abade fora morto para não ouvir o que ele se propusera a contar. <p align="center"><a href="http://suaveso.blogspot.com.br/2013/01/capitulo-iii.html"><img title="anterior_thumb[1]" style="border-top: 0px; border-right: 0px; background-image: none; border-bottom: 0px; padding-top: 0px; padding-left: 0px; border-left: 0px; display: inline; padding-right: 0px" border="0" alt="anterior_thumb[1]" src="http://lh6.ggpht.com/-n_sekJaPNhg/UPmQmS7rpyI/AAAAAAAAfVo/3tILsQPBCDo/anterior_thumb1%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800" width="30" height="28"></a> <a href="http://suaveso.blogspot.com.br/2013/01/capitulo-v.html"><img title="proxima_thumb[1]" style="border-top: 0px; border-right: 0px; background-image: none; border-bottom: 0px; padding-top: 0px; padding-left: 0px; border-left: 0px; display: inline; padding-right: 0px" border="0" alt="proxima_thumb[1]" src="http://lh6.ggpht.com/-s5qYe-2PYTU/UPmQn9SdIvI/AAAAAAAAfVs/10r30cJ-UuY/proxima_thumb1%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800" width="30" height="28"></a></p> Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4826496656119648987.post-26130472539264055992013-01-18T10:11:00.001-08:002013-01-18T10:41:41.280-08:00Capítulo V<p align="justify"><b></b><a href="http://lh6.ggpht.com/-Og3oogwHwig/UPmQDRSD6sI/AAAAAAAAfNk/jZrZyj7Wa4Y/s1600-h/Shot015%25255B4%25255D.jpg"><img title="Shot015" style="border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; background-image: none; border-bottom-width: 0px; float: none; padding-top: 0px; padding-left: 0px; margin-left: auto; display: block; padding-right: 0px; border-top-width: 0px; margin-right: auto" border="0" alt="Shot015" src="http://lh5.ggpht.com/-fOm-W5D0KMc/UPmQXP7T0SI/AAAAAAAAfNs/BhyiMAgUFqo/Shot015_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="420" height="303"></a> "O destino do homem não está no futuro e sim no passado." (<a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Havelock_Ellis">Havelock-Ellis</a>) <p align="justify"><a href="http://lh3.ggpht.com/-0z93etbiJsk/UPmQXjSHrvI/AAAAAAAAfN0/9st3L_0lEa0/s1600-h/divis3.jpg"><img title="divis" style="border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; background-image: none; border-bottom-width: 0px; float: none; padding-top: 0px; padding-left: 0px; margin-left: auto; display: block; padding-right: 0px; border-top-width: 0px; margin-right: auto" border="0" alt="divis" src="http://lh4.ggpht.com/-G3rQLWiLfAY/UPmQYXjJ3fI/AAAAAAAAfN8/DQMo6T9qGxU/divis_thumb1.jpg?imgmax=800" width="51" height="20"></a></p> <p align="justify"><b>O</b> Big Ben soou onze vezes. Em uma hora acabaria o dia. <p align="justify">Sir William vagava pela ponte do Parlamento, a esmo. O vento frio do Tamisa lhe golpeava o corpo cansado, mas ele não parecia sentir. <p align="justify">Recordava a sua juventude na Melborne Street e as noites no The Cat. <p align="justify">Acenou a um carro que passava. Entrou e pediu que o chofer o levasse à Lancaster Road, na altura do 1003. <p align="justify">De certa distância viu a placa verde musgo, em cujo canto direito se via, pintado, um gato sorrindo, com uma enorme cauda vermelha. <p align="justify">Há muito tempo ele não entrava no The Cat of the Red Painted Tail Pub. Ao olhar de fora, nada lhe parecia ter mudado. Entrou. <p align="justify">Era por volta de 02h30min de uma madrugada fria, quando Sir William saiu do The Cat: excedera-se na bebida. <p align="justify">A Lancaster Road estava deserta. Ele cambaleou rumo à Melborne. Ao chegar na esquina, onde deveria dobrar, tropeçou na sarjeta: <p align="justify">- Diabo! <p align="justify">Ao ouvir a própria voz ecoar na madrugada, gargalhou. Repetiu o nome, desta vez mais alto. Parava e gargalhava ao ouvir seu próprio eco na solidão da noite londrina. <p align="justify">Parou em frente ao sobrado que outrora lhe servira de morada. Tentou abrir o portão. Estava fechado. Com esforço pulou o portão e forçou a porta do apartamento. <p align="justify">Mãos o seguraram com firmeza. Virou-se: era a polícia, que fora avisada pelos moradores haver um louco pelas redondezas. Reagiu à prisão, aos impropérios, dizendo-se rico e poderoso. <p align="justify">Pela manhã, ao sair da Delegacia do Distrito de Lancaster, a imprensa toda lhe estava à espera, cruel como sempre, ávida pelos fatos desprovidos das circunstâncias ou conjunturas que o deram causa e efeito. <p align="justify">Tudo que a imprensa queria era uma foto de um esfarrapado Sir William Delbury, o grande benfeitor de Londres, ao sair da delegacia onde passara a noite ébrio, por arruaça na Melborne Street. <p align="justify">Mesmo com uma vida dedicada à caridade, por ser um homem rico e influente em Londres, Sir William houvera feito inimigos na vida. <p align="justify">Ao escapar da multidão de jornalistas avistou Lord Mulney, que se ofereceu para acompanhá-lo até o Castelo Delbury. Fizeram todo o trajeto mudos. Ao saltar da limusine, Sir William perguntou se o bebê Mulney estava bem. <p align="justify">- Está ótimo. Ele e a mãe ainda estão no Saint Paul, mas devo levá-los para o Mulney’s Castle amanhã. Quer conversar sobre o que ocorreu, Sir? <p align="justify">- Não, prefiro descansar. <p align="justify">- Se precisar de mim, mande-me chamar. <p align="justify">William Delbury inspirou fundo. Com a expiração veio a frase que se prepara para dizer: <p align="justify">- Lord Mulney. <p align="justify">- Sim, Sir William? <p align="justify">- Não posso aceitar ser o padrinho do bebê Mulney, e jamais devo vê-lo. Nunca, entendeu? <p align="justify">- Não posso compreender, Sir William. <p align="justify">- Apenas aceite isto. Jamais me procure novamente. Corte-me da sua relação. Você está cortado da minha. Disto depende a vida do pequeno Mulney. Um bom dia, meu Lord. <p align="justify">Lord Mulney não conseguia pronunciar uma palavra. Continha, a custo, as lágrimas ao acompanhar, com o olhar, a silhueta do seu melhor amigo se distanciando dele rumo à entrada do Castelo. <p align="justify">Ao chegar aos seus aposentos, Sir William não se conteve e caiu em prantos. Adormeceu exausto. Acordou, por volta das 22h00min, com baques violentos à porta do quarto. <p align="justify">- Sir William! Uma tragédia está ocorrendo! <p align="justify">- Por Deus, o que há John?! <p align="justify">- O Saint Paul! <p align="justify">- O que há com o Saint Paul?! <p align="justify">- Está em chamas! A caldeira que servia a ala infantil estourou e o fogo se alastrou por todo o prédio! <p align="justify">Ao chegar ao quarteirão da Trepton Lidscore Square, onde se localizava o Saint Paul Hospital, Sir William pode ver a altura das chamas, que já se alastravam pelos prédios vizinhos, tendo já consumido toda a ala infantil e a parte norte do grande hospital. <p align="justify">Ele foi impedido pelos bombeiros de entrar nos escombros, e tentava, desesperadamente, desvencilhar-se, quando, no meio da multidão, avistou Lord Mulney a prantear, desesperado, o corpo queimado da Senhora Mulney e, ao lado, em uma manta, o corpo que ele julgou ser o do pequeno Mulney, enquanto duas pessoas tentavam convencê-lo a deixar que os levassem. <p align="justify">Sir William correu em direção ao amigo e, desesperado, abriu o manto à espera de ver o pequeno Mulney com vida. <p align="justify">Um senhor o tentou impedir. Ele abriu o manto e avistou o corpo do bebê. Faltava-lhe a cabeça. Algo, no incêndio a havia separado do corpo. <p align="justify">Sir William deixou-se cair ao solo. Seu coração secou. Não encontrava forças para prantear ou sentir. Sentiu que havia uma pedra enorme e pesada no seu peito. <p align="justify">Levantou-se e pegou o carro de volta para o Castelo Mulney. Ao chegar, John o avisou que aquele mesmo cavalheiro que lá estivera um dia, o esperava na biblioteca. <p align="justify">Sir William entrou e sentou-se. Não estendeu a mão quando o cavalheiro o cumprimentou. <p align="justify">- Eu lhe avisei, meu caro William. Não sabemos lidar corretamente com estas coisas, por isto sempre recorremos aos homens, para que nada fuja do controle. Eu também lhe avisei que não deveria ousar quebrar o pacto que fez comigo, pois o preço poderia ser maior que o efetivamente cobrado. <p align="justify">- Vá para o inferno, de onde veio, seu desgraçado! <p align="justify">- Você foi ao céu através de mim: no inferno agora está por suas próprias atitudes. Estas coisas são apenas estados de espírito. <p align="justify">- Estou farto da sua filosofia que tenta justificar a sua maldade e excluir a sua perversidade! Tudo que diz não passa de uma hipocrisia diabólica, uma armadilha para tentar me convencer da sua dualidade! <p align="justify">- Ora, meu caro William, quem é o culpado de tudo que lhe tem ocorrido? Eu sempre tenho cumprido tudo que lhe prometi. Não quebrei a minha parte do pacto. Quem é o diabo nesta história? Quem matou a Senhorita Stantson? Quem degolou o Abade de Canterbury? Quem incendiou o Saint Paul? Eu? Não, William, você o fez, com a sua incredulidade primeiro, depois com a quebra do seu compromisso. E eu o avisei que as conseqüências seriam terríveis. E, ao final de tudo, William Delbury, você me chamou, lembra? Você poderia ter recusado tudo, e só teria pagado o preço da sua incredulidade inicial. E se não insistisse tanto na minha presença, talvez tivesse tido, da mesma forma, tragédias na vida, mas não as creditaria a mim, e sim, conformado e resignado, as atribuiria à Ele, com aquela expressão peculiar dos resignados: foi Deus quem quis assim. <p align="justify">- Por que sempre insiste nesta comparação absurda? Por que ousa sempre tentar colocá-Lo no mesmo patamar? <p align="justify">- Apenas uma forma de sempre lhe alertar a consciência, meu caro William. Uma batalha se trava na eternidade. Tenho que ter adeptos, não? Tudo é uma questão de referência e as minhas não têm sido muito bem trabalhadas, embora meus métodos não sejam tão diferentes. <p align="justify">- Chega! Você não vai me convencer que lhe devo ser servil e fazer de mim um instrumento do mal! É assim que engana aqueles que caem nas suas garras. Com esta lógica perversa que faz com que se perca a fé Nele e a credite à você! Dá poder aos homens para usá-lo através deles! O homem pode ter poder sem você, e pode suportar as maldades que maquina com a sua mente diabólica, para delas tirar proveito próprio. As tragédias do mundo são suas, tentado alquebrar a fé dos homens, na bondade divina. A resignação do homem, nada mais é que a garantia da sua fé. Há uma batalha sim, e você não será o vencedor ao final! Vade Retro, Satanás! <p align="justify">- Belo discurso, William, mas nada disto apaga o seu passado e o pacto que fez comigo. Você há muito tempo, optou por mim e não por Ele. Fez a sua escolha e, neste caso, William, o arrependimento não te absolverá a vida e nem te renderá a alma. Ainda nos veremos, William. <p align="justify">O cavalheiro colocou o chapéu, tomou a bengala e fez uma leve reverência em despedida. <p align="center"><a href="http://suaveso.blogspot.com.br/2013/01/capitulo-iv.html"><img title="anterior_thumb[1]" style="border-top: 0px; border-right: 0px; background-image: none; border-bottom: 0px; padding-top: 0px; padding-left: 0px; border-left: 0px; display: inline; padding-right: 0px" border="0" alt="anterior_thumb[1]" src="http://lh6.ggpht.com/-s67X0SpqITQ/UPmQZkH6NmI/AAAAAAAAfV0/lHpexKJ9Ce0/anterior_thumb1%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800" width="30" height="28"></a> <a href="http://suaveso.blogspot.com.br/2013/01/capitulo-vi.html"><img title="proxima_thumb[1]" style="border-top: 0px; border-right: 0px; background-image: none; border-bottom: 0px; padding-top: 0px; padding-left: 0px; border-left: 0px; display: inline; padding-right: 0px" border="0" alt="proxima_thumb[1]" src="http://lh3.ggpht.com/-vCVjANkAGwc/UPmQaz62R0I/AAAAAAAAfV4/pgmR737AYzY/proxima_thumb1%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800" width="30" height="28"></a></p> Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4826496656119648987.post-11119086408830564722013-01-18T10:07:00.001-08:002013-01-18T10:42:22.693-08:00Capítulo VI<p align="justify"><b></b><a href="http://lh4.ggpht.com/-V85ZqPrw1Dk/UPmPWJ6mrpI/AAAAAAAAfMk/46KsDJ6uBjA/s1600-h/Shot014%25255B4%25255D.jpg"><img title="Shot014" style="border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; background-image: none; border-bottom-width: 0px; float: none; padding-top: 0px; padding-left: 0px; margin-left: auto; display: block; padding-right: 0px; border-top-width: 0px; margin-right: auto" border="0" alt="Shot014" src="http://lh3.ggpht.com/-v59Hr5rRu4E/UPmPXF5J80I/AAAAAAAAfMs/3pgN99UkF_w/Shot014_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="317" height="316"></a> "Ninguém sabe quanto tempo pode durar um segundo de sofrimento." (Graham Greene) <p align="justify"><a href="http://lh3.ggpht.com/-tmmjVcU-wNE/UPmPX-D6g1I/AAAAAAAAfM0/CILDSVv5iaY/s1600-h/divis3.jpg"><img title="divis" style="border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; background-image: none; border-bottom-width: 0px; float: none; padding-top: 0px; padding-left: 0px; margin-left: auto; display: block; padding-right: 0px; border-top-width: 0px; margin-right: auto" border="0" alt="divis" src="http://lh4.ggpht.com/-XVni7F5yW_4/UPmPYo00ldI/AAAAAAAAfM8/uJjwykn8YCI/divis_thumb1.jpg?imgmax=800" width="51" height="20"></a></p> <p align="justify"><b>O</b> incêndio, aliado ao episódio da prisão de Sir William, foram os motivos que os seus inimigos acharam para iniciar uma campanha de destruição de sua pessoa e sua fortuna. <p align="justify">Foi comprovado, pela perícia dos bombeiros da cidade de Londres, que a caldeira da ala infantil, que causou a tragédia com a explosão, o fez por negligência dos técnicos incumbidos da sua manutenção. <p align="justify">Lord Mulney, não resistiu à perda da esposa e filhos e cometeu suicídio: outro duro golpe para Sir William. <p align="justify">As indenizações, que tiveram que ser pagas às famílias das vítimas foram arruinando a fortuna de Sir William, que teve que se desfazer de suas participações bancárias e vender suas indústrias para arcar com os pagamentos. <p align="justify">Quando Sir William começou a não mais poder custear as inúmeras subvenções altruísticas que fazia, as pessoas o foram abandonando, em busca de outros benfeitores. <p align="justify">Pouco saia do Castelo Delbury, o qual se tornou o seu claustro. Quando precisava sair, sentia-se constrangido, pois era olhado, quando reconhecido, como o culpado pela tragédia do Saint Paul, onde houvera morrido mais de 50 pessoas, entre elas mais de 20 crianças. <p align="justify">Dois anos após a tragédia do Saint Paul, perdeu John, seu fiel mordomo, tomado pela pneumonia, no rigoroso inverno londrino. <p align="justify">Ao cabo de dez anos, desde o incêndio do Saint Paul, Sir William Delbury se viu obrigado a vender o grande Delbury Castle. <p align="justify">Resolveu abandonar Londres, a cidade em que nascera e onde passou seus poucos momentos de prazer e suas singulares tragédias: nada mais ali o prendia. <p align="justify">Sempre fora um homem recatado, mas agora a cidade o ignorava por completo. Não conseguia aceitar, e entender, por que a cidade a qual tantos serviços houvera prestado, agora lhe virava as costas, como se um criminoso perigoso fosse. <p align="justify">Com o dinheiro da venda do Delbury Castle, comprou uma modesta casa em Stratford-on-Avon, onde nascera a sua única amada, a Senhorita Stantson, a cerca de 100 quilômetros de Londres. <p align="justify">Achou que no interior as pessoas, sem lhe saberem a história, poderiam aceitar-lhe. <p align="justify">Ledo engano. Os homens carregam consigo os seus mistérios, não podem deixá-los para trás, e bastam alguns dias para que a curiosidade os revele aos outros: em pouco mais de um mês toda a pequena Stratford-on-Avon sabia quem era o seu novo morador. <p align="justify">A história já chegara lá deturpada, ao sabor das versões, que sobrevivem aos fatos e os sufocam: Stratford-on-Avon acreditava piamente, que aquele senhor houvera ateado fogo ao Saint Paul para receber o dinheiro do seguro, pois estava em dificuldades financeiras. <p align="justify">Sir William Delbury, aos olhos daquela gente, se havia transformado no diabo em figura de gente. <p align="justify">As lembranças de Sir William passaram a ser as suas constantes companheiras. Rememorar seus tempos de jovem, ao lado de seus amigos no The Cat, e as carícias da Senhorita Stantson, começaram a ser torturas insuportáveis. <p align="justify">Chorava convulsivamente ao se misturar ao sorriso da sua bela amada, o terror estampado na cabeça, separada do corpo, do velho Abade, ou do bebê Mulney. <p align="justify">Não suportava lembrar a expressão lúgubre, estampada no rosto cadavérico de Lord Mulney, pendurado em uma corda, no living do Mulney’s Castle. <p align="justify">Aquelas visões se tornavam cada vez mais constantes e incontroláveis. <p align="justify">Desejava, às vezes, que aquele cavalheiro o estivesse a esperar na sala, para conversarem: a solidão o atormentava de tal forma que mesmo o diabo poderia lhe ser uma agradável companhia. <p align="justify">Mas nem ele aparecera mais, desde o último encontro no Delbury Castle. <p align="justify">William provava o gosto amargo do esquecimento: a morte em vida. O suplício insuportável da solidão. <p align="justify">Em uma noite tépida de verão, Sir William Delbury resolveu por fim ao seu sofrimento que parecia eterno. Já houvera comprado uma arma para este fim. <p align="justify">Sentou-se à cadeira ao lado da janela. A lua clara e alta emprestava uma tênue luz à pradaria e, mais adiante, se refletia no Avon River, que cortava a pequena cidade: era, deveras, uma bela noite para morrer, pensou Sir William. <p align="justify">Engatilhou a arma. Enfiou o cano à boca: segurando com firmeza, puxou o gatilho. <p align="justify">O silêncio da noite enluarada foi rompido com o estampido seco do tiro. As perdizes, que faziam ninho ao largo, saíram em revoada, formando um belo quadro com a penumbra da Lua, que àquela hora se escondera por detrás de uma nuvem, como que a não querer ver o suicídio. <p align="justify">Pobre William Delbury: não acabaria ali o seu destino. <p align="center"><a href="http://suaveso.blogspot.com.br/2013/01/capitulo-v.html"><img title="anterior_thumb[1]" style="border-top: 0px; border-right: 0px; background-image: none; border-bottom: 0px; padding-top: 0px; padding-left: 0px; border-left: 0px; display: inline; padding-right: 0px" border="0" alt="anterior_thumb[1]" src="http://lh5.ggpht.com/-ja6_c1I_Hqk/UPmPZ2LIyVI/AAAAAAAAfV8/HulXyEBDUm8/anterior_thumb1%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800" width="30" height="28"></a> <a href="http://suaveso.blogspot.com.br/2013/01/capitulo-vii.html"><img title="proxima_thumb[1]" style="border-top: 0px; border-right: 0px; background-image: none; border-bottom: 0px; padding-top: 0px; padding-left: 0px; border-left: 0px; display: inline; padding-right: 0px" border="0" alt="proxima_thumb[1]" src="http://lh5.ggpht.com/-rAdH1EsVM0s/UPmPbu1B9NI/AAAAAAAAfWA/6hWdQgMmb7U/proxima_thumb1%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800" width="30" height="28"></a></p> Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4826496656119648987.post-31312872047638418142013-01-18T10:06:00.001-08:002013-01-18T10:43:17.409-08:00Capítulo VII<p align="justify"><b></b><a href="http://lh3.ggpht.com/-9482AlPU-hw/UPmO9kELGZI/AAAAAAAAfLk/Xz2uaejBShg/s1600-h/Shot013%25255B4%25255D.jpg"><img title="Shot013" style="border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; background-image: none; border-bottom-width: 0px; float: none; padding-top: 0px; padding-left: 0px; margin-left: auto; display: block; padding-right: 0px; border-top-width: 0px; margin-right: auto" border="0" alt="Shot013" src="http://lh3.ggpht.com/-iSDpDLmAA9A/UPmO-28auJI/AAAAAAAAfLs/3Q17gTKyHl0/Shot013_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="420" height="398"></a> "O diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém." <br>William Shakespeare <p align="justify"><a href="http://lh3.ggpht.com/-HmUzwG5XXHU/UPmO_dFIDyI/AAAAAAAAfL0/HR-B4XJjbTs/s1600-h/divis3.jpg"><img title="divis" style="border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; background-image: none; border-bottom-width: 0px; float: none; padding-top: 0px; padding-left: 0px; margin-left: auto; display: block; padding-right: 0px; border-top-width: 0px; margin-right: auto" border="0" alt="divis" src="http://lh6.ggpht.com/-ZU2Q-pe4Jtw/UPmPAORgmFI/AAAAAAAAfL8/elhuhOm1Go8/divis_thumb1.jpg?imgmax=800" width="51" height="20"></a></p> <p align="justify">Sir William Delbury levantou-se da cadeira. Falhara a tentativa? Não era possível: ele chegou a sentir a estranha sensação, embora indolor, do projétil lhe atravessando o cérebro. <p align="justify">Imaginou que, com o coice da arma, esta poderia lhe ter escapado às mãos e caído, livrando-o da mira. Virou-se à cadeira para ver onde houvera caído a arma. <p align="justify">A cena que viu, ao mirar a cadeira, fez-lhe recuar assustado: enxergou seu próprio corpo ao chão, a cabeça estourada pelo projétil. A arma jazia a alguma distância do corpo. <p align="justify">Ouviu ruídos e virou: eram algumas pessoas a olharem, espantadas pela janela. <p align="justify">Acompanhou, sem poder intervir, as cenas que se seguiram. Viu seu corpo ser enrolado em uma manta e levado dali. Assistiu jogarem-no o corpo, como lixo, na vala comum do único cemitério da cidade, o Pilgrin’s Cemetery. <p align="justify">Voltou à casa por uns dias. Não sabia o que fazer. Vagou assim, por mais de um ano, em Stratford-on-Avon: por mais que tentasse, não conseguia sair daquele círculo que a cidade se tornara para ele. <p align="justify">Não sentia diferença alguma em seus sentimentos. As mesmas visões do passado o atormentavam. <p align="justify">A morte não fizera a diferença que ele esperava. Ao contrário, seu desespero era maior, pois, quando lhe vinham as lembranças, sentia com mais intensidade os acontecimentos. Vivia-os de novo. Via-se, não mais que de repente, nos locais das tragédias, com a mesma dor lhe lancinando o coração. <p align="justify">Um dia, não mais que de repente, em uma das tentativas de deixar Stratford-on-Avon, conseguiu voltou à Londres. <p align="justify">Vagou pela cidade até Trafalgar Square. Via a cidade de uma forma diferente. Resolveu procurar o pub que freqüentava em vida: o The Cat of the Red Painted Tail Pub. <p align="justify">Ao chegar lá, ao invés da velha placa do gato, viu uma imensa porta de bronze, com caracteres estranhos. Empurrou a porta e esta se abriu, devagar. <p align="justify">Foi como se outra cidade se mostrasse a Sir William. A porta se fechou. Ao virar-se para trás, ele não mais viu a porta: estava no meio de uma imensa praça. Tudo a sua volta era de uma arquitetura totalmente desconhecida, mas que lhe pareceu agradável, embora intrigante. <p align="justify">De repente, sentiu algo lhe queimar o corpo inteiro e soltou um grito de dor. Algo o virava do avesso. Ele sentia cada célula sua ser retorcida e pressionada como se uma enorme tenaz o apertasse o ser. Gritava alucinadamente, desejando desfalecer para não mais sentir. <p align="justify">Tudo parou de repente. Ele suava e resfolegava aturdido. Respirava com dificuldade. Abriu os olhos: estava em uma imensa sala. <p align="justify">Dois homens, bem vestidos e apessoados, se aproximaram: <p align="justify">- Componha-se, William. Ele vai lhe receber agora, antes que você parta para a sua primeira missão. <p align="justify">- Quem me deseja ver? Estou aonde, afinal? No inferno? Não isto não pode ser o inferno. Não é assim que deveria ser o inferno. <p align="justify">- Dirija-se àquela porta e entre, William. Aguarde-o lá. <p align="justify">William abriu a porta e deparou-se com uma enorme biblioteca, infinitamente maior que aquela que possuíra em Delbury Castle. Não podia, na verdade, ver o fim dela em nenhuma das direções que olhasse. Olhou para cima e não via o teto. Sua vista se perdia em prateleiras. <p align="justify">Começou a vagar pela sala, olhando os livros. Não entendia os caracteres, todavia. <p align="justify">Deparou-se com uma espécie de escrivaninha, feita de um cedro nobre e bem talhado. Ao lado da poltrona estava uma bengala da mesma madeira, com o punho cravejado de brilhantes. No espaldar da cadeira, pousada em uma ponta que se sobressaia do mesmo, uma cartola preta. <p align="justify">William Delbury começava a imaginar o diálogo, em morte, que travaria com aquele ser que pouco vira em vida, quando ouviu, a sua costa, uma voz que lhe era inconfundível: <p align="justify">- Seja bem-vindo, William. <p align="justify">Ao virar-se, William viu o mesmo elegante e grave cavalheiro. Impecavelmente vestido. O mesmo olhar sereno e penetrante. <p align="justify">Desta vez, todavia, podia ver-lhe com clareza o rosto e, para sua surpresa, no lugar da expressão marmórea ou da própria falta de expressão, naquele rosto havia um leve e suave sorriso: o suave sorriso do demônio. <p align="center"><a href="http://suaveso.blogspot.com.br/2013/01/capitulo-vi.html"><img title="anterior" style="border-top: 0px; border-right: 0px; background-image: none; border-bottom: 0px; padding-top: 0px; padding-left: 0px; border-left: 0px; display: inline; padding-right: 0px" border="0" alt="anterior" src="http://lh3.ggpht.com/-wRPoKFyhWj8/UPmPBgn_01I/AAAAAAAAfXA/d_q-EJlIOuI/anterior%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800" width="30" height="28"></a> <a href="http://suaveso.blogspot.com.br/2013/01/prologo.html"><img title="proxima" style="border-top: 0px; border-right: 0px; background-image: none; border-bottom: 0px; padding-top: 0px; padding-left: 0px; border-left: 0px; display: inline; padding-right: 0px" border="0" alt="proxima" src="http://lh6.ggpht.com/-26SGP0_yMqM/UPmPC3qFx1I/AAAAAAAAfXE/rp-k61p021o/proxima%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="28" height="30"></a></p> Unknownnoreply@blogger.com0